Sábado, 17 de Março de 2007

(112) Lá na esquina da casa

Lá na esquina da casa

 

Lá na esquina da casa onde nunca me deixaste entrar
Desenrola-se um romance
                                     de faca e alguidar
E há demasiados palavrões para que percebamos o que se passa.

Lá na esquina da casa onde nunca me deixaste entrar
O sangue e o sémen
                             espalhados pelo ar
Dão o mote para o começo das nossas almas próprias.

Lá na esquina da casa onde nunca me deixaste entrar
Escrevem-se poemas
                              de sonhos d'encantar
E copiámos adultices para dizermos um a outro.

Lá na esquina da casa onde nunca me deixaste entrar
Perguntaste-me para quem eram
                                               os punhais a latejar
E eu respondi-te, «para tanta gente, e gente nenhuma».

Lá na esquina da casa onde nunca me deixaste entrar
As pessoas olham atentas
                                     para o lento desmoronar
E separamo-nos, para nunca mais lá voltar.

 

Pedro Miguel Santos

publicado por poesiaemrede às 02:11
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